A pandemia Covid-19 abalou o mundo de maneiras profundas e inesperadas. Mais de 131 milhões de pessoas adoeceram com o vírus, e quase 3 milhões morreram em decorrência dele. Os meios de subsistência de milhões de agricultores e trabalhadores foram impactados, os negócios comuns foram interrompidos, e os impactos continuam a aumentar à medida que o vírus migra para novas regiões.
Ainda não se sabe quão severos e duradouros serão os danos econômicos, ou se a pandemia estimulará ações urgentemente necessárias sobre a mudança climática, o aumento da desigualdade e o desenvolvimento sustentável. Uma coisa com a qual todos podemos concordar é que “normal” parecerá diferente daqui em diante.
A pandemia trouxe para o foco da discussão o quanto todos somos dependentes do que acontece em outras partes do mundo para os produtos que usamos todos os dias. À medida que as empresas buscam revigorar suas operações após a crise, as inovações atuais em certificação de sustentabilidade podem ajudar a construir cadeias de suprimentos mais resilientes por meio de um foco mais forte na melhoria contínua, em transparência e em responsabilidade compartilhada.
Confira a seguir três maneiras de se fazer isso:
1. Medir a melhoria contínua para ajudar agricultores e empresas a mitigar riscos e construir resiliência
Em maio de 2020, CEOs de 155 marcas globais, incluindo Mars, Nestlé e Unilever, estabeleceram seus compromissos de investir na recuperação e resiliência por uma transformação socioeconômica sistêmica. Os impactos econômicos severos da Covid-19 amplificaram a opinião pública e a preferência do consumidor por negócios responsáveis. Já na última década, um número recorde de empresas reconheceu que a viabilidade comercial de longo prazo não pode existir sem sustentabilidade social e ambiental. Muitas empresas se voltaram para a certificação de sustentabilidade como uma forma eficaz de construir cadeias de suprimentos resilientes e garantir sua viabilidade a longo prazo.
Uma pesquisa independente mostrou que a certificação tem um impacto ambiental, social e econômico positivo. Sistemas confiáveis de certificação por terceiros permitem que as empresas demonstrem seu compromisso em combater o desmatamento, proteger os recursos naturais e contribuir para uma renda vital e trabalho decente para produtores e trabalhadores em todo o mundo. Esses benefícios da certificação explicam porque, em 2017, a produção certificada representava 16% da área total cultivada para chá e quase um quarto das áreas globais de produção de cacau e café.
As inovações recentes na certificação de sustentabilidade se concentram em atender ao desafio estabelecido pelos CEOs de “reimaginar um futuro melhor baseado em ações climáticas ousadas”. Por exemplo, a certificação confiável está superando os simples critérios de aprovação/reprovação rumo à medição da melhoria contínua. Para obter mais impacto, a certificação de sustentabilidade deve se concentrar mais em apoiar agricultores e empresas na identificação e mitigação de riscos de sustentabilidade de contextos específicos, impulsionando um melhor desempenho e construindo resiliência. Sustentabilidade não é um ponto final: é uma jornada. E a certificação de sustentabilidade deve se tornar o veículo que apoia e acompanha toda a cadeia de suprimentos ao longo dessa jornada.
2. Seja transparente e responsável: o que você vê é o que você obtém
As interrupções relacionadas à pandemia de Covid-19 nas cadeias de suprimentos globais também chamaram a atenção para a preferência dos consumidores e empresas em saber de onde vêm seus produtos. Um artigo recente na “The Economist” identificou a necessidade de tornar os sistemas globais de alimentos mais transparentes, rastreáveis e responsáveis, a fim de que as doenças tenham menos probabilidade de passar despercebidas do animal para o humano. O artigo apontou a certificação e os padrões de qualidade como ferramentas importantes para isso.
Os sistemas de certificação estão agora desenvolvendo um conjunto mais amplo e inovador de ferramentas que permitem aos produtores, consumidores e empresas rastrear produtos agrícolas da fazenda à mesa. Os sistemas de rastreabilidade estão sendo fortalecidos para mostrar a origem dos produtos e como eles se movem na cadeia de abastecimento, de modo que os riscos de sustentabilidade possam ser continuamente identificados, e investimentos possam ser feitos para resolvê-los. Imagens de satélite estão sendo usadas cada vez mais para monitorar o desmatamento e outros riscos ambientais, como o uso da água e a erosão, que ameaçam a produtividade e a renda dos agricultores e colocam em risco a viabilidade de longo prazo de cadeias de abastecimento agrícolas inteiras. Esses tipos de avaliação de risco baseada em dados e abordagens de melhoria serão a chave para construir cadeias de suprimentos mais resilientes e sustentáveis.
3. Compartilhar os benefícios e custos da produção sustentável
A Covid-19 revelou as fortes desigualdades dentro dos países e entre países, situação que certamente será exacerbada em razão de todo o impacto econômico gerado pela pandemia. A esperada desaceleração global pode levar milhões à pobreza nos próximos anos, com pessoas de grupos de baixa renda e países pobres afetados de forma desproporcional.
Quando os produtores rurais perdem renda, há um maior risco de trabalho infantil, trabalho forçado e outros abusos dos direitos humanos nas cadeias de abastecimento globais. O desmatamento pode aumentar à medida que os agricultores procuram terras mais férteis para aumentar seus ganhos. Onde os agricultores não conseguem ganhar o seu sustento com a produção de commodities essenciais, é mais provável que os jovens abandonem totalmente a agricultura, colocando em risco a viabilidade a longo prazo de algumas cadeias de abastecimento.
A certificação é uma ferramenta fundamental para os agricultores e empresas mostrarem que estão tomando medidas para lidar com a sustentabilidade. Mas o ônus de tornar a produção agrícola mais sustentável não pode recair apenas sobre os ombros dos produtores. Os sistemas de certificação devem permitir e obrigar os compradores a compartilhar a responsabilidade de investir e recompensar a produção sustentável.
Novo selo RA: o mais recente passo da nossa jornada de melhoria contínua
A pesquisa mostrou que a certificação é mais bem sucedida em melhorar a subsistência e proteger a natureza quando os agricultores recebem apoio e investimentos de que precisam para implementar práticas mais sustentáveis. Os sistemas de certificação devem aproveitar proativamente seus dados sobre riscos e desempenho de sustentabilidade para ajudar as empresas a construir cadeias de suprimentos resilientes, visando investimentos em produção sustentável.
A Rainforest Alliance já está enfrentando esse desafio. Em maio do ano passado, revelamos nosso novo selo de certificação, que representa a fusão de dois dos principais padrões de certificação agrícola, UTZ e Rainforest Alliance. Os agricultores que produzem ingredientes usados em produtos que levam o novo selo estão em um caminho de melhoria contínua, transparência e responsabilidade compartilhada.
Em 30 de junho de 2020, lançamos o novo Padrão de Agricultura Sustentável, incorporando novas ferramentas para apoiar produtores e empresas na definição de metas claras de sustentabilidade e focando investimentos para melhorar os impactos positivos às pessoas e à natureza. Inovações como essas são ferramentas oportunas para apoiar uma agricultura mais resiliente e tornar os negócios responsáveis o novo normal em um mundo contemporâneo à Covid-19.
Este artigo foi publicado originalmente na Agenda do Fórum Econômico Mundial.