Em 2024, a Rainforest Alliance, em parceria com o grupo certificado Agrogenius e a exportadora Bourbon Specialty Coffees, iniciou um projeto piloto para detalhar as características de fazendas certificadas que implementaram a agricultura regenerativa por pelo menos cinco anos.
O objetivo do projeto era facilitar a expansão dessas práticas nas plantações de café no Brasil. O projeto piloto cobriu uma área de três mil hectares em fazendas de Minas Gerais, uma região conhecida pela produção de café de alta qualidade e pelo papel de destaque na indústria cafeeira do Brasil.
Dados agronômicos de cinco colheitas (2019 a 2023) foram coletados por meio de entrevistas com agricultores e análises de registros abrangendo área de produção, volume, produtividade, custos totais de produção e custos associados a diversas práticas agrícolas. Além disso, foram analisadas amostras de solo, focando nas características biológicas, físicas e químicas para avaliar a saúde do solo, fundamental para a sustentabilidade da produção agrícola.
A agricultura regenerativa é um conceito que ganhou atenção global desde a década de 1980 e busca promover práticas agrícolas sustentáveis que priorizam a saúde do solo, a biodiversidade e a resiliência dos agroecossistemas como um todo. No Brasil, esse movimento começou a se fortalecer nas últimas duas décadas, especialmente em resposta à degradação ambiental associada à agricultura intensiva.
Mais regeneração, menos químicos
As práticas de agricultura regenerativa que estão sendo implementadas em plantações de café no Brasil incluem métodos que melhoram a eficiência do uso da água, além da adoção de culturas de cobertura e da aplicação de fertilizantes orgânicos e produtos biológicos. Essas abordagens não apenas otimizam a regeneração dos agroecossistemas, mas também diminuem significativamente o uso de pesticidas e fertilizantes químicos, resultando em menores impactos ambientais.
A agricultura regenerativa se apresenta como uma oportunidade importante para aumentar a sustentabilidade das plantações de café no Brasil, trazendo consideráveis benefícios ambientais.
No entanto, para garantir o sucesso a longo prazo dessa abordagem, é essencial superar vários desafios. A necessidade de suporte técnico é um dos principais obstáculos, uma vez que a implementação requer conhecimentos específicos, e a falta de recursos para capacitação técnica pode dificultar esta adoção.
Investimentos e qualidade do solo
As condições econômicas fazem parte destes desafios, já que a transição para práticas regenerativas pode exigir investimentos iniciais onerosos. No nosso projeto piloto, por exemplo, o custo projetado para a transição regenerativa foi entre US$ 100 e US$ 500 por hectare, dependendo das práticas agrícolas implementadas, um valor que pode representar um obstáculo financeiro para muitos produtores. A ausência de políticas públicas que incentivem práticas agrícolas sustentáveis e regenerativas também pode limitar a implementação em larga escala.
Os resultados, porém, mostram que o investimento compensa. As fazendas participantes do projeto alcançaram juntas um Índice de Qualidade Fertibio (IQSFertibio)* de 0,75, indicando solos saudáveis com boas características químicas, físicas e biológicas.
Este resultado foi alcançado a partir da implementação de práticas agrícolas regenerativas, como plantas de cobertura, manejo ecológico de plantas invasoras e aplicação de insumos orgânicos e biológicos. Essas práticas melhoram características físicas, químicas e biológicas do solo e, consequentemente, melhoram sua fertilidade. Com isso é possível reduzir em até 70% o uso de fertilizantes químicos.
Essa melhoria na saúde do solo é essencial para garantir a sustentabilidade a longo prazo da produção agrícola, ao mesmo tempo em que contribui para a mitigação das mudanças climáticas. Isso porque a aplicação ineficiente de fertilizantes químicos tem contribuído muito para as emissões de gases de efeito estufa, especialmente relacionadas ao uso de fertilizantes nitrogenados, que podem liberar óxido nitroso (N₂O), gás que contribui significativamente para o aquecimento global.
A agricultura regenerativa representa uma oportunidade significativa para aumentar a sustentabilidade das fazendas de café no Brasil, proporcionando consideráveis benefícios ambientais. No entanto, a transição para essas práticas requer colaboração e apoio financeiro. É essencial um esforço coletivo entre agricultores, ONGs, governos e investidores privados para facilitar essa mudança.
*IQSFertibio é uma análise desenvolvida pela Embrapa que avalia a qualidade do solo. Sua escala vai de 0 a 1.
Por Guilherme Petená, responsável pelo programa de Agricultura Regenerativa na Rainforest Alliance Brasil .




